Quem se importa?
No centro de Ilhéus existe um índio. Os seus traços faciais não escondem a sua evidente descendência. Não, ele não anda com arco e flecha na mão, e sim com um saco, carregando seus fétidos pertences. Ele também não traja as vestes características da sua etnia, e sim trapos sujos e rasgados. Esse indígena já não domina o dialeto dos seus ascendentes, na verdade ele nem fala direitamente o português. Apenas emite uns tímidos grunhidos, que podem ser traduzidos como: “me dê uma esmola pelo amor de Deus!”. Será ele um Tupinambá, um Tupiniquim ou um Pataxó? Pouco importa, sob a ótica dos valores em voga ele não é ninguém. Talvez um pária, um Dalit, que vive a inundar de repulsa os sentimentos alheios.
Esse indígena não vive mais em tribo, é um andarilho solitário. Os seus pares são outros moradores de rua, caboclos, mestiços, afrodescendentes e talvez até outros índios, cujas circunstâncias os fizeram também seres sem identidade. Esse citado cidadão vive a perambular pelo centro histórico de Ilhéus, já não se utiliza das técnicas dos seus ancestrais para caçar e se alimentar. Ele gasta seu tempo a vasculhar os nossos lixos, à procura de restos de comida, latinhas de alumínio ou qualquer outro atrativo. Vive a importunar os turistas e as pessoas de “casta”, que buscam um pouco de entretenimento nos pontos turísticos da cidade. Principalmente os que apreciam um aprazível fim de tarde em uma f amosa praça local, que leva o nome de um ilustre poeta baiano. Muitos o consideram como um marginal, pois trata-se de um pobre viciado nos entorpecentes que a mesma sociedade que lhe vira as costas, lhe disponibilizou em doses cavalares.
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