sábado, 3 de novembro de 2007

Não é a Polícia que manda.

Escrevo em resposta a ‘carta ao leitor’ sobre o filme Tropa de Elite, publicada por Marcel Leal no dia 27 de outubro, no site do Jornal A Região. Eu também assisti o filme (ótimo, por sinal), e um mínimo de sensatez me obriga a rascunhar algumas palavras.

O filme em si não é reacionário. Mas o ponto de vista do Capitão Nascimento é - além de reacionário - taxativo, limitado e violento. A proposta do filme, no entanto, é outra. Defende claramente a idéia de que o comportamento do homem resulta de circunstâncias (e não só do caráter), inclusive o do próprio capitão da tropa, que, dominado pelo stress da ‘guerra’, sucumbe à violência abusiva nas favelas e ao autoritarismo berrado dentro de casa.

Marcel Leal, contudo, defende que “a maioria (dos bandidos), quase todos, não tem jeito. Nasceu para isso”, concluindo que são criminosos irrecuperáveis. É preocupante que o Estado decida que matar pessoas é uma boa forma de punir o crime. Mas é trágico que alguém aceite e, pior, defenda que a polícia deve fazê-lo, independente do Estado, que é regido por leis. Dizer que uma pessoa nasceu pra ser bandido é recorrer a técnicas e idéias retrógradas e ultrapassadas de perfis sociológicos e psicológicos do criminoso, o que justificaria medidas extremas, caminhando, quem sabe, para a vigilância do ‘potencial’ criminoso antes mesmo dele cometer o crime – porque, pressupondo que nasceu para o crime, pressupõe-se que irá cometê-lo.
E tal pensamento surge numa dita ‘democracia’ avançada como a nossa - como seria sob as asas de uma ditadura a aplicação dessas idéias em nome da segurança pública? Pé na porta e tapa na cara!

Marcel Leal pergunta ainda: “Por que o cara que matou, roubou, estuprou, vendeu drogas para nossos filhos deve ter vida boa?” – Um cara que mata, rouba e estupra, óbvio, tem que ser punido. Mas não para saciar a ânsia de ‘vingança social’, e sim para mostrar que existe lei em um país, para vivermos minimamente em paz. A criminalidade está relacionada, (também, mas não somente) às adversas condições sociais do país, mas também a impunidade, esta que, aliás, estimula a corrupção que faz crescer as desigualdades sociais num desumano círculo vicioso. Mas, enfim, porque o BOPE só mata na favela, sob os aplausos de Marcel Leal e Luciano Huck? E até parece que os tais caras, que roubam, matam e estupram têm vida boa aonde quer que seja...

Mas fica outra pergunta no ar: se esses caras vendem drogas para nossos filhos, por que nossos filhos compram drogas desses caras? É trágico também não saber o que se passa de verdade em seu país, em sua cidade, ou mesmo em sua família. Sem conhecer a verdade, sem observar com cuidado e clareza, livre de preconceitos e de soluções simplistas, é impossível resolver o problema. Estaríamos condenados a repetir os mesmos erros históricos de sempre.

Por fim, é claro que todos nós queremos acabar com o crime, e essa vontade é inerente ao ofício da polícia, inclusive buscando impedir a possibilidade mesma do crime. Mas por isso mesmo não é o papel da polícia fazer as leis – teríamos uma vida muito pouco interessante se assim fosse... Aplaudir e ter como solução a ação violenta e assassina da polícia contra os ‘bandidos irrecuperáveis’ é apostar na repressão como forma de organização social, e já é visível que as até aqui ineficazes políticas públicas de segurança só fazem crescer a necessidade de investimento em estrutura policial e construção de presídios. Assim chegamos a uma estrutura de segurança pública hipertrofiada, com elite e elites da elite das tropas, cujos policiais já não consideram o risco do cidadão, mas apenas o do bandido; e os dirigentes responsáveis só consideram os seus próprios riscos políticos.

Em tempo, eu, leitor do A Região, vi uma nota de Marcel Leal criticando ofensivamente os alunos do curso de Comunicação Social da UESC, porque estes lhe enviaram um convite para a abertura da Semana de Comunicação, só que esqueceram de indicar o dia do evento, que foi acrescentado a mão, de caneta. E se isso fosse crime? Mas não é. Marcel Leal não cogitou, talvez, que o convite era apenas uma metáfora emblemática: a ‘falha’ pode ter sido uma forma sutil de dizer algo.

Fabrício Ramos

Formado em Comunicação pela UESC, e coordenador do portal Cultura e Pensamento (Ministério da Cultura).

2 comentários:

Madeira de Dá em Doido disse...

Seu blog só não é melhor pq não tem o link do ABORDUNA esse também bota pra fuder. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Madeira de Dá em Doido disse...

Seu blog só não é melhor porquê não temolink do ABORDUNA, esse bota pra fuder mesmo. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Aliásadorei sua matéria sobre a Nossa- argh! - camara tem a nossa cara kkkkkkkkkkkkkkk